~ Vento Forte

por Angélica Vidal

Sempre fui fã de poesias, muito embora frustrada ao tentar escrevê-las (prefiro as estáticas prosas). Acima disso, sou leitora ávida dessa literatura apaixonante. Sou pisciana, consequentemente sonhadora e apaixonada. Seja esse o motivo (ou qualquer outro), adoro poemas!

Tabacaria, de Fernando Pessoa, tem seu lugar especial para mim, além de ser a obra prima que é, também é citado em um dos filmes brasileiros de que mais gosto: Fica comigo essa noite.

Aos que nunca leram o poema na integra deixo-o aqui. Sim, é enorme; e sim, é lindo.


TABACARIA

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.


Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.


Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.


Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?


Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.


(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)


Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.


(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)


Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente


Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.


Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.


Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,


Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.


Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.


Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.


Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.


(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

É tão boa a fase em que a única preocupação que se tem é não ter nada com que se preocupar....

As Crônicas de Nárnia são, sem sombra de dúvidas, a coleção mais fascinante que eu já li, pra falar a verdade eu literalmente devorei os livros (foram 3 semanas de leitura, sendo 2 delas em semana de provas). Das sete crônicas, a mais bonita eu acho que é exatamente essa: 'A viagem do Peregrino da Alvorada'.
Confesso, temia que esse filme não fosse feito, já que quase não aparecem o Pedro e a Suzana... E a história dele é tão boa e tão emocionante que não podia ficar de fora!

A estreia já tem data marcada: 10 de dezembro


Ela vivia os dias pesadamente.

Havia uma sensação pertinente de que ela estava sendo sufocada (o ar já não bastava para viver). De manhã, deitada na cama, abria os olhos sem vontade de acordar, sem a vontade de viver nem mais um dia...

Podia falar com qualquer pessoa, mas as conversas eram vazias e ninguém valia sua preocupação; apesar de saber que não podia dizer isso em voz alta (seria muito problemático lidar com as consequências de palavras tão sinceras) ela estava convencida. E lá ela ficava: dormindo acordada para não precisar viver.

Com o tempo ela se acostumou com a ideia de que nenhum príncipe iria tirá-la do seu sono profundo, da sua amargura sem sentido. Acreditava também que o próprio príncipe não valeria apena.

Mas um dia, alguém comentou sobre dias que se foram. Dias em que ela não era apenas o espectro apagado e sim a rainha impetuosa. Ela fora totalmente idiota esquecendo-se que aquela rainha jamais desistiria dos seu sonhos, jamais passaria despercebia e jamais se apagaria dessa maneira; e por aquela rainha ela não poderia se permitir fazê-lo.

Não precisava de um príncipe, o deslumbre do seu próprio potencial a fez acordar.

Tinha esquecido o quanto é chato ficar postando fotos uma a uma no Deviant... Hoje eu estava super animada pra postar algumas das minhas fotos e passar o photoshop em outras. Até a parte de melhorar as fotos com o Photoshop eu ainda estava animada, mas quando o computador E a internet começaram a não colaborar comigo: eu cansei.

No entanto, aqui estão duas das minhas fotos (únicas que ficaram como deveriam):
Aos interessados, o meu deviant está nesse link aqui.

Eu sempre acho que deveria saber fazer mais coisas na cozinha que miojo e café. Às vezes eu até me animo, ainda mais quando vejo os vídeos do 'Ana Maria Brogui' (pra quem não sabe é uma sessão do blog Brogui)
Ainda chego lá, e vou até fazer vídeos que nem esse aqui.


Deu uma vontade de comer esfiha agora, né?

Tempo é uma coisa que me falta... Mal começou a correria e eu estou exausta!! A pergunta que não quer calar é: Por que então eu estou aqui em plena quarta de manhã?! Não sei. Deu vontade de escrever, e essa coisa de escrever tem que ser assim de momento.
Se meu dia tivesse umas 30 horas mais ou menos, eu acho que daria tempo pra fazer tudo (ou quase tudo). Não é como se eu não gostasse do que ando fazendo, eu gosto. E gosto principalmente de ir a vários lugares durante o dia e ver pessoas diferentes o tempo todo. Nenhum dia é igual ao outro.

Aqui tem um texto meu pra quem quiser ler: Chili

Bem, o blog ficou bem abandonadinho, mas agora vai ser diferente (ou não) hahaha

Sobre o Blog

Um vento nunca diz pra onde vai... Você pode apenas seguir na direção dele, ou não.

Quem sou eu

Minha foto
Sabe aquela coisa de momento?! Quando você decide o que quer fazer e faz?! Eu gosto disso, e tento ser assim sempre que possível.